Natação Triatlo   •   Novembro, 2018

É uma dúvida para muita gente. Quantas pernadas é que devo fazer por cada braçada?

Bem, esta é daquelas que tem o tipo de resposta que ninguém gosta de ouvir: depende.

De qualquer forma, como sou a favor de respostas concretas, assuma como regra geral três pernadas por cada braçada para um total de seis pernadas por ciclo.

Se ficou satisfeito com a resposta, não precisa de ler mais. Daqui para a frente é só caos. Caso esteja interessado num bocado de confusão, faça favor!

Já todos – se não é o caso não se preocupe, não perdeu nada – vimos pessoas a fazer duas pernadas numa braçada e depois uma na outra; só bater uma vez à perna quando roda o corpo; aparentemente não bater às pernas, ou ainda aqueles em que nem se consegue contar as pernadas a não ser que o vídeo esteja em slow motion.

Bem, então o que é que se pode retirar daqui? Qualquer coisa serve?

O número de pernadas a realizar por cada braçada depende do seu objectivo, da distância que está a fazer, se vai realizar mais esforço a seguir, da estratégia que leva, do tipo de nado que tem, etc. etc. No entanto, para facilitar a decisão, existem a meu ver duas principais funções que a pernada assume para a maioria das pessoas:

1. Compensar desequilíbrios
2. Promover a rotação

Tome atenção que não refiro propulsão. Esse é um outro tema.

As pernadas servem então para a maioria das pessoas, e não estou a falar de nadadores de topo, para compensar os desequilíbrios que têm por mau posicionamento do corpo dentro de água (ver este post).

2ª RAZÃO

A 2ª razão é para promover a rotação do corpo de um lado para o outro sempre que se faz uma braçada.

Ora, esta é a parte que nos interessa ver melhor. Se o objectivo é iniciar / promover a rotação do corpo aquando da execução da braçada, então é importante saber qual a pernada a executar neste momento. Veja o vídeo identificando a pernada da rotação, tanto para um nado de 3 pernadas por braçada como para 1 pernada por braçada.

O importante a reter é que, independentemente se faz 3 pernadas ou 1 pernada, a pernada que faz a rotação é sempre a mesma: perna direita para rodar para a direita, perna esquerda para rodar para a esquerda.

É possível nadar e bater as pernas ao contrário? É… mas também é contra produtivo e em contra-ciclo. Acontece muito em nadadores com frequências muito elevadas de braçada que tentam colocar 3 pernadas por braçada e não conseguem coordenar ambas em velocidades tão elevadas.

Então, se a preocupação é a pernada da rotação, e assumindo que essa está bem definida, as “pernadas do meio ou intermédias” servem para quê?

PERNADAS INTERMÉDIAS

Bem, se a função / problema 1 da compensação de desequilíbrios estiver resolvido, então as pernadas podem servir para estabilizar o corpo enquanto se move (desliza?) dentro de água até que inicie a rotação da próxima braçada OU podem servir como propulsão para algumas pessoas que reúnam um conjunto de condições não muito comuns.

Essas condições não muito comuns são ter pernadas muito boas e eficientes (regra geral obriga a boa flexibilidade plantar, controlo da recuperação da pernada, inexistência de vícios do movimento da perna vindos da corrida e/ou do ciclismo) & simultaneamente ser um nadador relativamente lento. Quanto mais rápido se nada, menos impacto têm essas pernadas intermédias na propulsão e melhores têm que ser as pernadas para ter algum efeito considerável.

Assim sendo, a decisão de fazer 1 ou 3 pernadas por braçada, está mais relacionada com a capacidade de conseguir ou não estar estável enquanto se espera pela próxima braçada, do ritmo a que nadamos nesse momento, da qualidade da nossa pernada e do esforço que pretendemos despender no nado naquele momento ou naquela prova por opção ou estratégia, do que propriamente com o facto de uma ser melhor que a outra.

No final, saber fazer as duas hipóteses e conseguir controlar o corpo como se pretende, traz uma maior-valia enorme em termos de desenvolvimento técnico que ultrapassa largamente o valor exclusivo da pernada para o nado.